sexta-feira, 3 de junho de 2016

[Carta de amor] - Em algum lugar do passado


Rio de Janeiro, 1988(?)

Meu grande amor,

Gostaria de saber em que passado infinito nos encontramos pela primeira vez. Gostaria de saber os teus desejos e os meus, as tuas manias e as minhas. Gostaria de retornar por um segundo apenas a esse tempo que marcou nossa eternidade...

Sinto vontade de ultrapassar as nuvens, os céus, num mergulho de intensidade mística, até encontrar a ti e a mim nesse infinito passado, que hoje se apresenta na forma desse sentimento estranho que me torna criança, me transforma em mulher, me desfaz em fêmea, me faz lembrança e me transforma em tua realidade!

Queria saber e sentir o que uniu um dia o sentimento de hoje! Preciso olhar-te os olhos com a mesma pureza com que vês os meus. Preciso beijar-te a boca da maneira que desejas, com a minha, apenas, ligeiramente entreaberta... Preciso enroscar minhas pernas nas tuas do jeitinho desejado e insinuado na hora do amor. Preciso apertar tuas mãos, alisar teus cabelos, arranhar suavemente tuas costas e apertar teu peito nos meus seios, que são exatamente do tamanho dos teus desejos!

Preciso continuar linda, para que tua alma pressinta em mim a beleza do passado... Preciso ser a paz que teu sentimento procura e deseja, para continuar à disposição dos meus caprichos.

Quero sugar tua estrela mais bonita e no céu dos nossos sonhos engolir toda a luz desse esperma que me fará eternamente bela e sensual diante da tua alma.

Não quero ser mulher de uma vida!
Não quero ser prazer de uma vida!
Não quero ser o sonho de uma vida apenas!

O que te desejo ser é muito mais profundo do que as palavras podem descrever; é muito mais intenso do que a vibração dessa música que arranca lágrimas dos meus olhos e me transforma em menina e rainha, em ilusão e matéria.

O que te desejo ser é muito mais eterno do que um instante só de vida e, ao mesmo tempo, que incoerência! - cada instante de vida perto de ti é tão infinito quanto uma eternidade!

Gostaria de saber em que passado nos encontramos e nos amamos e nos dissemos e nos prometemos as mesmas coisas que hoje, sem entender bem o por quê, dizemos e nos prometemos, sem querer... querendo!...

Preciso encontrar e entender, em algum lugar do passado, a resposta que necessito para não te machucar com palavras malcriadas e sem sentido...

Preciso alcançar teu sentimento mais verdadeiro, para transformar meu sorriso em flor e merecer ser retratada por ti, para fazer do teu pincel a minha vida e me fazer eterna na tua tela e na tua alma - como flor, beleza, perfume, mulher... e paz!

Beijos, os mais doces e ternos...
Sílvia Mota.

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